Parece
clichê, mas desde que o mundo é mundo o homem precisa de uma musa. Foi assim de
geração em geração, principalmente depois do Renascimento e será assim durante
muito tempo, talvez eternamente, para o terror das feministas radicais.
Sábado
foi mais um dia monótono no cotidiano de minha cidade. À noite, saí de casa
para matar meu tempo, o que mais tenho feito ultimamente. Mas a chuva caiu e a
preguiça de encará-la me levou ao milionésimo concurso da “garota mais bonita
da cidade”. Aliás, deve ser a cidade com mais "garotas mais bonitas da
cidade", pois fazem uns três concursos do tipo todo ano. Também elegem o
congênere masculino, mas ninguém se importa, acho que nem as mulheres.
No
dia seguinte, estava eu assistindo ao jogo do tricampeão Cruzeiro contra o
Bahia. O jogo não valia nada para a Raposa, mas para os baianos valia a
permanência na 1ª divisão. Meu time sofreu a virada no final do duelo, após o
juiz surrupiar nossa vitória ao não expulsar o goleiro tricolor. Poucos
segundos depois do gol, porém, nada mais importava. A cena de uma moça linda
comemorando o gol do Bahia fez tudo voltar a valer a pena. Em poucos minutos,
ela se tornou assunto nas redes sociais, seus perfis na internet foram
devassados e, pelo menos por alguns dias, a vida dela não será mais a mesma.
Uma
pergunta me veio com essas duas situações: “Como surge uma musa?”.
No
primeiro caso, criaram um concurso para escolhê-la. No segundo caso, ela surgiu
do nada, naturalmente, de um modo tão espontâneo que surpreendeu a todos.
Obviamente, prefiro a musa natural. A do concurso, com todo respeito, é
artificial, representa a opinião subjetiva de alguns jurados “iluminados”. A
natural é diferente, ela parece ter nascido para estar ali, é perfeita para
compor aquele momento específico.
Concursos
de misses são tão artificiais que as mulheres são submetidas a treinamento! É
claro que a culpa não é delas e sim dos organizadores do evento, mas penso que
uma musa não se constrói. Ela nasce pronta e é do jeito que é. Reparem na musa
baiana: não possui mililitros de silicone, nem decigramas de maquiagem. Também
não estava querendo chocar como muitas oportunistas fazem, quem não se lembra
das marombadas mulheres-fruta, das panicat’s na TV ou das paraguaias semi-nuas
nos jogos de futebol?
A
Isabella não precisou usar trajes minúsculos, não precisou se submeter ao
bisturi, não precisou de uma eleição. Foi simplesmente aclamada. Muito mais por
sua evidente espontaneidade naquele momento de felicidade única, que só os
amantes do futebol podem entender, do que por sua beleza. Até o Cléber Machado,
que narrou o final do jogo para São Paulo, e outros narradores deixaram
transparecer a inusitada situação. Tudo porque uma menina, que não segue a
linha das gostosonas marombadas, das modelos magrelas e nem das misses
artificiais acabou roubando a cena.