segunda-feira, 26 de julho de 2010

Podem soltar o Rubinho!

12 de maio de 2002. Manhã de domingo, dia das mães, o brasileiro Rubens Barrichello, então segundo piloto da Ferrari, cedeu o primeiro posto do GP da Áustria para o alemão Michael Schumacher – um daqueles adeptos da vitória a qualquer preço – seguindo ordem dos chefes da Ferrari. Ontem, 25 de julho de 2010, manhã de domingo, GP da Alemanha, o também brasileiro Felipe Massa cedeu o primeiro posto para o espanhol Fernando Alonso – outro daqueles adeptos da vitória a qualquer preço – seguindo ordem dos chefes da mesma equipe italiana.

Convenhamos, quem em sã consciência descumpriria um contrato milionário? Pouquíssimas pessoas, talvez Nélson Piquet. Quanto a Ayrton Senna, não consigo sequer imaginar tal situação porque o único companheiro de equipe capaz de acompanhá-lo foi o tetracampeão Alain Proust e, mesmo assim, deu no que deu. Porém, é bom ressaltar que Senna viveu circunstância parecida no ano de 1991, na oportunidade em que conquistou seu tricampeonato, o maior piloto de todos os tempos permitiu que Berger, seu fiel escudeiro, vencesse a corrida que lhe garantiu o título. Enfim, Ayrton era primeiro piloto, campeão e valia a festa.


GP do Japão de 1991, Senna deixa o escudeiro Berger passar.

Mas há diferença entre os incidentes de 2002 e 2010? Creio que sim. Não pelo Dia das Mães e nem por Felipe Massa ser um segundo piloto que não sai do armário, a maior disparidade está nas reações dos pilotos após todo o ocorrido. Rubens Barrichello e Michael Schumacher se sentiram visivelmente constrangidos no pódio daquela corrida em A1-Ring. Aquele fato abalou a relação entre os pilotos e Rubinho já declarou diversas vezes seu arrependimento por ter deixado o alemão passar.



 GP da Áustria de 2002, o escudeiro Barrichello deixa Schumacher passar.

Ontem, o cinismo de Felipe Massa e Fernando Alonso foi de enojar qualquer um. O espanhol reclamou do brasileiro com a equipe que, por sua vez, ordenou a manobra. No pódio, Fernando Alonso comemorou a vitória como se nada ocorrera. A Ferrari negou que tivesse influenciado seus pilotos e Massa, apresentando a versão mais absurda de todas, afirmou que deixou o companheiro ultrapassa-lo por livre e espontânea vontade e que pensou somente no bem da equipe.


GP da Alemanha de 2010, o “escudeiro” Felipe Massa deixa Fernando Alonso passar.

Não é justo condenar os brasileiros que exercem ou exerceram a função de segundo piloto. Somente aqueles pilotos experientes teriam respaldo e currículo para dizer um não categórico à equipe. Se Piquet, Senna e Fittipaldi desobedecessem a Ferrari, amanhã estariam empregados na McLaren. Infelizmente não era o caso de Rubens Barrichello e não é o de Felipe Massa. A situação deles é compreensível, o que realmente incomoda é o cinismo do último.

Nenhum comentário: